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quais habilidades o seu filho precisa desenvolver para ser alfabetizado?

e como você pode, em casa, brincando e utilizando livros infantis, ajudá-lo a desenvolvê-las?




Você é mãe ou pai de um pequeno que está em fase de alfabetização? Ou seu filho ainda é pequenininho, mas você já está procurando se informar para oferecer todo o suporte que ele precisar nessa próxima etapa? Em ambos os casos, parabéns por se envolver também nesse aspecto do desenvolvimento do seu filho!


Aqui, nesse breve — ou não tão breve — texto, quero compartilhar de forma simples algumas informações a respeito da alfabetização e também algumas dicas de como você pode, em casa, brincando e utilizando livros infantis, ajudar seu filho a desenvolver habilidades que serão necessárias para compreender e utilizar o sistema de escrita alfabético.


Antes de começar, quero deixar claro que não pretendo aqui falar de nenhum método de alfabetização no sentido de te ensinar a alfabetizar seu filho em casa (ou os seus alunos na escola, se você for professor). As ideias trazidas aqui estão especialmente baseadas nas obras de Artur Gomes de Morais (2020) e Magda Soares (2016) e, portanto, as perspectivas são de viés construtivista.


O que isso significa? De forma bem breve e pouco profunda, significa compreender a alfabetização como um processo gradual no qual a criança vai, aos poucos e por meio de estímulos adequados, evoluindo em sua compreensão e domínio do sistema de escrita.

Por que escolho este viés? Porque até o momento é o que melhor conheço e, até então, tem feito sentido.


A alfabetização é um processo muito bonito de se acompanhar e pode ser bastante divertido e prazeroso para as crianças, mas, certamente, não é simples.


Antes de aprender que as letras representam os sons da fala, que é a linha de chegada do processo, é preciso entender uma série de detalhes e características do sistema de escrita, que para nós, adultos, podem parecer muito banais.


É preciso entender, por exemplo, que a escrita não é a mesma coisa que um desenho; que ela é formada de letras, um conjunto fixo de símbolos que não podem ser alterados conforme se quer — é preciso, então, conhecer as letras, em seus diferentes formatos possíveis. Também é necessário diferenciar as letras de outros símbolos, como os números, por exemplo.


Como a escrita alfabética representa a parte sonora da língua, além disso tudo, é fundamental refletir sobre a própria língua - se dar conta que ela existe (sim!), que ela é formada de sons, não somente de significado. Em outras palavras, isso é desenvolver a consciência linguística, e mais especificamente a consciência fonológica.


Para refletir sobre a linguagem é necessário desenvolver a Consciência Fonológica, que vem a ser a “sensibilidade para a cadeia sonora da fala e reconhecimento das possibilidades de sua segmentação” (SOARES, p.167).


Em outras palavras, é a habilidade de se voltar para os sons das palavras, segmentá-las e manipulá-las. Em termos práticos, é ser capaz de identificar, separar e contar sílabas. Comparar o tamanho das palavras. Identificar as diferenças e semelhanças entre as partes das palavras. É através da Consciência Fonológica que a gente compreende que as palavras são formadas por partes sonoras e que existem partes que se repetem em diferentes palavras.


Se faz tempo que você se alfabetizou, talvez você não se lembre de como era o seu pensamento antes. A história de O menino que aprendeu a ver (Ruth Rocha), além de ser super bonita e emocionante, vai te ajudar a entender e lembrar o que se passa na mente de uma criança que ainda não sabe ler.


Para ajudar seu filho a refletir sobre a língua, existem tarefas simples que você pode incluir na rotina de leituras de vocês. A principal delas é ler textos rimados para e com ele! As poesias, cantigas, trava-línguas e textos rimados em geral nos convidam a brincar com as palavras e perceber suas semelhanças e diferenças. Ao brincar com as palavras através da leitura, repetição e também criação de novas estruturas semelhantes, a criança pode manipular os sons da língua, mesmo sem ainda estar pensando de forma explícita e consciente sobre eles.


Aqui segue uma pequena lista de livros que podem incentivar as brincadeiras da família:



Poesias

Nas poesias que trazem aquela estrutura bem rimada temos um prato cheio para perceber as semelhanças entre as palavras da nossa língua.


Mas, pra mim, poesia não é uma coisa muito fácil de se ler. Digo isso porque de modo geral estou sempre buscando encontrar um sentido, um começo, um meio, um fim e também alguma mensagem e conclusão nas histórias que leio. Mas com poesias muitas vezes isso não é possível, justamente porque o seu papel é outro. É o de jogar com a imaginação!

Uma dica especial para quando for procurar poesias e textos rimados para crianças é preferir os autores nacionais, que já escreveram o que queriam escrever na nossa língua. Dessa forma você evita traduções que podem comprometer a profundidade, a riqueza de detalhes e o significado do texto.


Esse é um ótimo livro para começar a ler poesias. Um texto lindo, rimado, gostoso de ler e com COMEÇO, MEIO e FIM. Que na verdade não é o fim, é um recomeço.


Uma seleção com 111 poemas de Sérgio Capparelli, selecionados por ele mesmo, para crianças. São poemas de vários tipos divididos em dez categorias: Coisas que eu sei, Esses animais divertidos, Na minha casa, Ah, a cidade!, Quero ser eu mesmo, Nonsense, Jogos e Adivinhas, Poemas visuais, Música de ouvido e A natureza, os dias e as noites.


Um livro com 56 poemas de Cecília Meireles, publicado pela primeira vez em 1964. Entre todos esses poemas delicados e gostosos de ler, você certamente encontrará algum conhecido. Algum “do seu tempo”. Eu encontrei As meninas, A língua do nhem e A chácara do Chico Bolacha!


Um livro de poesias brasileiras para crianças, organizado e ilustrado por Adriana Calcanhoto. Contém uma ótima seleção que permite ao leitor conhecer brevemente e se encantar por muitos poetas!


Um livro lindo que mostra alguns animais da fauna amazônica, traz algumas informações técnicas sobre cada animal, um poema e lindas ilustrações!

Este é mais um dos vários livros da obra de Lalau e Laurabeatriz que falam sobre a fauna e flora brasileira.



Cantigas

Um tesouro que herdamos da tradição oral popular, organizado por Ana Maria Machado. Essa coleção registra muitas cantigas e brincadeiras que fizeram parte da minha infância (e provavelmente da sua também): Ciranda, cirandinha, Vamos passear no bosque?, Cai, cai, balão, Feijão com arroz e Rosa Juvenil. E ainda outras que eu não conhecia: De abóbora faz melão, Cinco porquinhos, Barca nova e Tangolomango.


Atualmente é bastante fácil encontrar essas músicas e brincadeiras populares fazendo uma breve pesquisa na internet, mas ter um livro desses em casa pode ser bastante interessante para os momentos em que queremos estar offline.



Trava-línguas

As semelhanças linguísticas a serem observadas não estão só no final das palavras. Elas podem estar em qualquer parte. Neste livro, que brinca e acrescenta muitas partes ao trava-língua que você provavelmente já conhece, as semelhanças estão na repetição de uma estrutura que aparece em várias partes das palavras, mas especialmente no início: TRês, TRistes, TRópicos, TRator, TRavessas, TRigos, etc.



Rimas

Ao nos alertar para não confundir situações e personagens que só têm a sonoridade de seus nomes em comum, esse livro nos convida a brincar com os sons da língua. E, assim, percebendo as semelhanças entre os sons finais das palavras, podemos convidar as crianças a criarem outras possibilidades.


Os outros livros desta mesma coleção também são muito divertidos e trazem as mesmas possibilidades: Você troca?, Assim Assado e Adivinhe se puder.

 

Até agora você teve acesso a um bom repertório de livros, mas o que você pode fazer com eles?


Ler, ler e ler. Não tenha receio de repetir uma mesma história ou poema infinitas vezes. Conduza a leitura de modo que a criança participe, completando as palavras e frases. Com o tempo a criança vai memorizando o texto e isso só tornará a experiência mais rica: ter o texto decorado ajuda a criar um repertório e ter o conhecimento mais disponível na hora que for precisar acessar ele, quando começar formalmente o processo de alfabetização.


Deixar que a criança leia os textos já memorizados e ajudá-la a encontrar algumas palavras no texto (assista a este vídeo aqui para entender melhor). Encontrar novas palavras semelhantes foneticamente para substituir algumas das palavras do texto (exemplo: Não confunda sorvete de amora com o urso que vai embora) e deixe que a criança perceba e crie outras variações.


Criar novos versos seguindo os padrões do texto e brincar com as palavras. Introduzindo essas leituras e brincadeiras na rotina da família, você vai permitir que seu filho esteja tendo contato com um rico repertório e seja estimulado a pensar sobre a língua de forma espontânea e divertida.


No futuro, quando for necessário acionar de forma intencional essas habilidades, elas já estarão lá. Vai ser muito mais fácil!


____________

Referências

MORAES, Arthur Gomes de. Consciência fonológica na educação infantil e no clico de alfabetização. Belo Horizonte: Autêntica, 2020.


SOARES, Magda. Alfabetização: A questão dos métodos. São Paulo: Contexto, 2016.


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1 Comment


Tuane Martins
Tuane Martins
Jun 08, 2022

Adorei suas colocações Bel. O acesso a leitura de qualidade é realmente fundamental para uma alfabetização de qualidade. Hoje existem muitos profissionais que realizam cotação de histórias de maneira gratuita por meios das plataformas de vídeos.

Assi mesmo com as dificuldades de acesso ao livro físico ainda temos disponíveis literaturas em outros formatos.

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