Acabei de ler Peter Pan (Zahar, 2013), livro publicado por J. M. Barrie em 1911, a partir de uma peça teatral escrita pelo mesmo. Já conhecia a história a partir do filme, que assisti logo que foi lançado, em 2003.
Embora a experiência de ler seja completamente diferente da experiência de assistir, achei o livro muito parecido com o filme (ou seria o contrário?).
Na verdade, não encontrei na leitura nada de que já não tivesse uma vaga lembrança. Mas, como disse, ler é diferente e a leitura sempre nos dá mais tempo para pensar e refletir sobre os vários pequenos e profundos assuntos trazidos nos diálogos e cenas narrados na história.
E foi isso que aconteceu por aqui.
Esse livro é uma deliciosa aventura para uma leitura compartilhada entre mães e filhos, de todas as idades. É uma aventura deliciosa para as crianças, cheio de surpresas e ação, lutas, fantasia, mas também cheio de sentimento. Ele mostra como as mães e as crianças são, a partir de uma perspectiva que nos ajuda a olhar com os olhos de criança. Mostra os sentimentos que as crianças têm, seus desejos e como a sua forma de pensar mistura uma ingenuidade inocente com o egoísmo presente naqueles que ainda não perceberam que o mundo todo não gira em torno de si.
J.M. Barrie fala de uma criança que não quer crescer, de um lugar para onde todas as crianças vão e fala sobre a sua maior necessidade, que é serem cuidadas e amadas pelas mães.
Peter Pan é o menino que não quer crescer. Uma figura encantadora, valente, corajosa e atrevida. Ele ama aventuras e conquista a admiração de todas as crianças que, de certa forma, gostariam de ter a liberdade que ele tem. Gostariam de não precisar fazer os deveres das crianças, gostariam de não precisar ir para a escola, tomar remédio, obedecer e se comportar.
Ele é líder, é exibido, é um cavaleiro e tem uma arrogância que causa grande irritação nos seus inimigos. Mas também tem uma memória curta, tão curta que talvez essa seja a razão dele nunca crescer e amadurecer.
“Peter ficou atordoado não por causa da dor, mas por causa da injustiça. Aquilo o deixou completamente indefeso. Ele só conseguia olhar para Gancho, horrorizado. Toda criança se sente assim da primeira vez que é tratada com injustiça. Quando a criança se aproxima de você, querendo se entregar a você, a única coisa que ela pensa que merece é um tratamento justo. Depois que você for injusto com ela, ela vai voltar a amá-lo, mas nunca mais vai voltar a ser a mesma criança. Ninguém nunca se recupera da primeira injustiça. Ninguém, exceto Peter. Ele sempre sofria injustiças, mas sempre as esquecia. Acho que essa era a verdadeira diferença entre ele e todos os outros.”
A Terra do Nunca, país de Peter Pan e para onde ele leva todos os meninos perdidos, é um lugar que todas as crianças que têm a oportunidade de ficar um pouco ociosas e brincar com a liberdade de suas imaginações já conhecem. Elas visitam esse lugar sempre que brincam de faz de conta ou sonham acordadas.
Peter leva as crianças para um lugar onde o faz de conta é real, onde é possível sentir e viver de verdade cada aventura. Mas na Terra do Nunca também há espaço para brincar e para brincar de faz de conta, a maioria das crianças consegue fazer isso e separar as coisas, menos para Peter.
“A diferença de Peter para os outros meninos em momentos como aquele é que eles sabiam que aquilo era faz de conta, enquanto para Peter faz de conta e realidade eram exatamente a mesma coisa. Isso às vezes perturbava os meninos, como quando eles tinham que fazer de conta que já tinham jantado.”
Outro aspecto muito interessante na história e que não havia sido tão marcante no filme é a relação e a admiração que as crianças têm pelas mães. As crianças, mesmo felizes por estarem livres e sem obrigações, sentem falta de uma mãe. Elas precisam do cuidado e carinho de uma mulher e é isso que elas pedem para Wendy.
Wendy, por sua vez, desempenha um ótimo papel — que me rendeu muitas risadas, inclusive.
“Puxa vida! — exclamou Wendy, — Às vezes acho que as crianças não valem tanto trabalho.”
Essa história tem duelos, espadas e morte. Mas nada muito escandaloso e sangrento. Embora a morte faça parte da aventura, ela não é muito valorizada. Os personagens bons e maus são facilmente reconhecidos, mas ninguém é totalmente alguma coisa. Até Gancho tem seus momentos doces e genuinamente gentis, como todos nós.
O texto é muito gostoso e leve de ler. O autor fala diretamente com o leitor e vai fazendo algumas brincadeiras, revelando seu ponto de vista e opinião sobre a história.
Indico Peter Pan para todos que gostam de aventuras!