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Quando falar de morte com as crianças?

Você já falou sobre morte com crianças? Você tem algum receio sobre quando e como abordar esse assunto? O que devemos ensinar para os pequenos? O que você pensa sobre a morte?


Hoje quero compartilhar algo bem pessoal com vocês.

Para mim a morte sempre foi muito natural. Nunca foi motivo de medo ou desespero, mas eu nunca soube muito bem o que fazer socialmente nessa situação, sabe?


Meu pai é pastor e fazer sepultamentos faz parte do seu ofício. Por isso, esse nunca foi um assunto tabu na minha família. Fazia parte do cotidiano saber que as pessoas morriam. Mas eu nunca participava dos velórios e enterros. Isso não era coisa de criança.


E talvez não seja mesmo, mas e quando começa a ser? Como e quando a gente aprende o que fazer nessas situações?

Saber como se comportar, saber o que fazer quando algum amigo perde alguém querido, foi uma questão menos natural para mim.


A morte é natural

Você já ouviu alguém mais velho falar que se sobreviver ao mês de agosto, está garantido mais um ano de vida?

Ouço bastante isso entre a minha família, com naturalidade e bom humor.


O envelhecimento e a morte são processos naturais. A morte é natural. É um assunto complexo e delicado, mas também é simples. A gente não precisa esconder e nem fantasiar demais para que as crianças entendam. A verdade é simples.



Um livro que fala com muita naturalidade e delicadeza sobre o assunto é A Velhinha de Dava Nome às Coisas. É a história de uma senhora que já havia perdido todos os seus amigos e que não queria ter que se despedir de mais ninguém. Essa velhinha adorava nomear as coisas, mas só nomeava aquilo que certamente sobreviveria mais tempo que ela, dessa forma ela não se apegava e não precisava se despedir. Ela dava nome ao carro e à cama, por exemplo, mas não dava nome ao cachorro.


(É claro que existem as catástrofes, os acidentes e diversas situações que podem inverter a ordem esperada, essas situações são traumáticas e muito delicadas, mas não é sobre elas que quero falar hoje.)


O que falar para as crianças?

Ao falar sobre morte com as crianças, é importante falar sobre o que você acredita.

A morte é a ausência de vida.

Mas o que é essa ausência? A vida realmente acaba? Ou existe algo depois? No que você acredita?


As possibilidades após a morte são muitas e ninguém pode afirmar com certeza o que vai acontecer. Todas as nossas explicações são baseadas na fé. E a fé é importante. A fé nos explica o inexplicável. Ela nos consola e nos dá sentido.


Não é preciso inventar fantasias e alegorias para explicar o assunto. O mais importante é falar a verdade. Explicar aquilo em que você acredita.


O luto

Quando perdemos alguém, passamos pelo luto.

O luto se manifesta de diferentes formas e intensidades. Mas, basicamente, é a tristeza e o pesar que sentimos ao perder alguém. E as crianças também sentem.

O luto é um processo muito individual. O processo de lidar com os sentimentos é muito pessoal. É importante sentir e muitas vezes também é importante falar. A quem está ao lado de alguém enlutado cabe abraçar, estar disponível para ouvir e acolher.


O luto também é um processo natural e esperado. É durante o luto que se aprende a viver com a ausência do outro. É durante o luto que elaboramos os sentimentos em relação a pessoa perdida, dando um novo significado para as relações.


Durante esse processo podemos escolher as memórias que queremos guardar e a forma como queremos lembrar das pessoas e situações.

De acordo com o livro O Cérebro da Criança, as nossas lembranças muitas vezes são criadas pelas histórias que contamos e repetimos a nós mesmos. Sabendo disso, podemos escolher ativamente as lembranças e a imagem que queremos guardar daqueles que nos deixaram.



No livro O Guarda-Chuva do Vovô uma menina passa pelo processo de ver o avô envelhecer e acompanha a sua morte. Aparentemente, ela não é muito envolvida no processo, mas ela sente. E ela, sozinha, encontra e ressignifica um objeto que se torna um símbolo do avô: o guarda-chuva.








Ritos de passagem

Os ritos de passagem são importantes para marcar as transições da vida. Todas essas marcas simbólicas tornam vivas e concretas as mudanças. Elas encerram velhos ciclos e começam novos.

Os aniversários nos lembram que estamos crescendo e envelhecendo, os casamentos dão início a uma nova família e as formaturas encerram a vida de estudante.

Mas é nos velórios e enterros que nos despedimos das pessoas. Participar dessas cerimônias é importante para que possamos nos despedir e entender concretamente que uma vida se encerrou.


Embora em algumas situações o ambiente possa ser bastante pesado e, nesses casos, não convém expor as crianças, elas não precisam ser excluídas desse ritual.

Enquanto são pequenas, as crianças devem ter a opção de acompanhar ou não os rituais de morte. É importante explicar com clareza o que acontece, sem assustar e sem enfeitar, e dar a elas a opção de participar ou não.


Mas é imprescindível que com o tempo elas aprendam que é importante estar nesses momentos. Que os velórios e enterros não são só sobre nós mesmos, mas são também uma forma de homenagear a pessoa que partiu e, principalmente, de estar com os enlutados, disponível para ouvir e acolher. Isso faz parte do amadurecimento.



Um livro que exemplifica muito bem um rito de passagem da superação do luto é Roupa de Brincar, uma história profunda e sensível em que uma menina vai brincar no guarda-roupas da tia e encontra roupas muito diferentes daquelas com as quais estava acostumada. A tia, que tinha muitas roupas coloridas e divertidas, agora só usava preto. Achando aquilo muito estranho, a menina tem uma ideia para resolver o problema: desenhar e colorir todas aquelas roupas. Essa atitude, por mais invasiva que possa parecer, acaba ajudando sua tia a virar a página.





Quando falar sobre o assunto?

Como já foi dito, a morte é natural. Pessoas morrem. Animais morrem.

Esse é um assunto que pode acabar surgindo até mesmo sem querer, em uma conversa de adultos ou ao explicar o perigo de alguma coisa, por exemplo. Ou com mais naturalidade, ao falar de algum familiar que já não está entre nós.


Não existe uma regra sobre o momento de falar sobre o assunto, mas, particularmente, prefiro que aconteça quando a gente quer, não quando a gente precisa.

E, para trazer o tema de forma leve, os livros que apareceram no texto são boas opções.


Como dizem nA Taba, cada história começa uma conversa e cada conversa começa uma história.


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