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Você conhece Shel Silverstein?

É muito provável que você já tenha ouvido falar de Shel Silverstein. Ou não.

Se não, vou começar com uma visão geral sobre sua carreira e algumas informações pessoais que talvez nos ajudem a ter um olhar mais compreensivo sobre a sua obra.

Depois, vou apresentar todos os livros infantis dele que encontramos traduzidos e editados no Brasil, para que você possa escolher aquele com o qual vai iniciar seu contato com o autor.



Shel Silverstein nasceu em Chicago, em 1930. Começou a escrever e desenhar em 1942, aos doze anos, e em 1961 publicou seu primeiro livro: Uncle Shelby's ABZ Book, que era direcionado ao público adulto, mas já trazia as características que encontramos nas obras infantis. Além dos livros infantis, Shel Silverstein foi poeta, músico, compositor e ainda escreveu roteiros para o teatro e para o cinema.


Em boa parte de seus livros, Silverstein aborda temas extremamente profundos e delicados, como as relações humanas, sobre o nosso lugar no mundo e sobre quem somos em relação ao outro. Em alguns outros livros, ele simplesmente nos diverte e faz rir com as situações em que coloca os personagens.


Antes de começar a pesquisar para escrever este texto eu já sabia da maior parte dessas informações pois elas acompanham os seus livros, atualmente editados pela Companhia das Letrinhas, que além da biografia do autor e tradutor trazem textos assinados por nomes bastante conhecidos (o escritor Mia Couto, o rapper Emicida, a cantora Fernanda Takai, o músico Hélio Ziskind e o ator Gregório Duvivier) na quarta capa, que é onde encontramos a “propaganda” sobre o livro.

Outra coisa que eu já sabia por conta da edição era o número de livros e personagens principais das histórias, pois ao final de cada livro encontramos uma página no as ilustrações dos personagens dos outros livros, e isso nos deixa com uma grande vontade de conhecer todos!


Mas o que eu não sabia era que Shel Silverstein havia passado por perdas tão duras em sua vida. Segundo o VergeWiki, ele foi casado e teve uma filha. Sua esposa faleceu quando a menina tinha cinco anos recém completos. Alguns anos mais tarde, com apenas 11 anos, sua filha sofreu um aneurisma e não resistiu. Acredito que isso tenha influenciado muito a escolha das temáticas de seus textos, que embora sejam destinados às crianças, falam muito com os adultos também.


As datas de lançamento dos livros A Parte que Falta e A Parte que Falta Encontra o Grande O são próximas às duas perdas, e saber disso me trouxe um novo olhar para estes livros.


Agora vamos conhecer um pouco mais sobre cada um de seus livros?



Essa história começa com vários leões vivendo um dia normal na selva. De repente, eles ouvem tiros e começam a correr.

O jovem leão, personagem principal, inicialmente corre também, mas depois se questiona sobre o que está fazendo e resolve conversar com um caçador.


Depois de uma longa conversa em que o leão inclusive tenta se render, o caçador mostra que não é um cara confiável e acaba sendo engolido pelo leão, que fica com a “coisa que cospe fogo”. A partir daí, o jovem leão dedica a maior parte do seu tempo a aprender a mexer na coisa que cospe fogo e, assim, aprende a atirar e se torna “só o melhor atirador do mundo inteiro”.


Esse é só o início da história. Depois o leão ainda sai da selva e aos poucos vai se transformando. Essa é uma história sobre identidade.


Leocádio (Uncle Shelby's Story of Lafcadio: The Lion Who Shot Back) foi o primeiro livro de Shel Silverstein para crianças, escrito em 1963, mas foi o último que eu conheci. Recebi ele recentemente pelo Clube Quindim, e me surpreendi muito com o livro, especialmente com o formato do texto: diferentemente dos outros, a história de Leocádio é contada em um texto mais denso, com muitas palavras, em um livro com 11 capítulos! E a escrita do autor, por sinal, é uma delícia de se ler!


No livro, o eu lírico (achei que nunca usaria essa palavra depois do Ensino Médio), que é o “Tio Shelby”, fala diretamente com o leitor e anuncia que vai contar a “história de um leão muito estranho - na verdade, o leão mais estranho que eu já vi.


Enquanto narra os fatos da vida do leão, tio Shelby vai abrindo alguns “hiperlinks”, fazendo algumas conversas paralelas que fazem a gente sentir que está conversando com o autor e deixam a história ainda mais interessante, embora as informações extras em si possam ser irrelevantes.


Por exemplo:


“Era uma vez um jovem leão e seu nome era… Bem, na verdade não sei qual era o seu nome pois ele morava na selva com outros leões e, se ele tinha um nome, certamente não era João ou Haroldo ou algo do tipo. Não, era um nome mais leonino como, ah, talvez Grograf ou Ruggrrg ou Grmmff ou Grrrrr.”


Bom, com esses pequenos trechos você já deve ter percebido que essa é uma leitura imperdível, né?



"Se você tiver uma girafa muito safa…

e esticar o pescoço dela, que espanto…

você terá uma girafa e tanto.


Se lhe puser um chapéu barato

em que dentro more um rato…

você terá de fato:

uma girafa e tanto com chapéu de rato."


Lembram das histórias cumulativas e com texto rimado, que costumam fazer um graaaande sucesso com os pequenos? Esses são aqueles livros que facilmente se tornam os preferidos, que eles querem ler de novo, e de novo, e de novo.


Pois o segundo livro de Shel Silverstein para crianças é um ótimo exemplo disso: escrito em 1964, Uma Girafa e Tanto (A Giraffe and a Half) é uma opção super divertida e gostosa de ler.


Pelo menos na primeira ou segunda vez.



"Era uma vez uma árvore…

… que amava um menino.

E todos os dias o menino vinha."


O terceiro livro de Shel Silverstein foi o que o consagrou e o tornou referência na literatura infantil.


O livro A Árvore Generosa (The Giving Tree), escrito também em 1964, foi traduzido em dezenas de países e fala sobre o relacionamento entre uma árvore e um menino. Um relacionamento generoso, de doação — e também de abuso.


Esse livro é bastante profundo e permite várias interpretações. Há quem veja a história como uma representação de relacionamentos afetivos; há quem a enxergue como a relação de Deus com o homem; há também quem identifique nela uma metáfora das relações humanas em geral... E deve ter gente que vê ainda muitas outras coisas.


Nessas histórias, mais do que tentar dar nomes aos bois, gosto de me encontrar. De me achar nos personagens e relacionamentos e ouvir o que a história tem a dizer para mim.


E você: já conhece essa história? O que ela diz a você?



"Quem quer este rinoceronte?

Ele está à venda, bem barato,

é enorme, o chifre, curvo e longo,

é quietinho como um camundongo.

Abana a cauda, contente, é bom de abraçar toda hora

e muito útil ao redor da casa onde a gente mora.


Por exemplo…

Pode servir de cabide.

É bom para coçar as costas.

E dá um belo abajur."


O quarto livro de Shel Silverstein para crianças, Quem Quer Este Rinoceronte (Who Wants a Cheap Rhinoceros?), é um anúncio: o anúncio de um rinoceronte bem barato e enorme!


Ao longo do livro o anunciante, muito sincero, fala sobre os prós e contras de adquiri-lo e vai mostrando como seria útil ter um rinoceronte em casa nas mais variadas e cotidianas situações. É um livro divertidíssimo, que brinca com cenas comuns do dia a dia.


E, por sinal, é também o meu favorito do autor.



Diferente de todos os outros, o quinto livro infantil de Shel Silverstein é uma coletânea de poemas — e também o único livro colorido do autor.


Em Fuja do Garabuja e Outros Seres Fantásticos (Uncle Shelby's Zoo: Don't Bump the Glump! and Other Fantasies), Shel Silverstein cria várias criaturas fantásticas, de nome e aparência esquisitas e escreve poemas sobre elas. Os poemas, de forma geral, alertam as crianças sobre os cuidados que devem ter ao encontrarem esses bichos por aí.


"O Bibeli


As maneiras do Bibeli são grosseiras;

ele detesta comida caseira

e adora encher a pança

com carne de criança.

Por isso, se ele chegar perto, fique em guarda,

entorne no ouvido ketchup e mostarda,

finja que é um guisado,

um ovo cozido ou estalado,

um pedacinho de torta, ou marrom-glacê -

talvez ele nem repare em você."



"Enquanto rolava, cantava a canção:

Oh, busco a parte que falta em mim,

a parte que falta em mim.

Ai-ai-iô, assim eu vou,

em busca da parte que falta em mim."


A Parte que Falta (The Missing Piece) provavelmente é o livro mais famoso de Shel Silverstein no Brasil.


Tá, eu estou dizendo isso porque foi através dele que conheci o autor e porque lembro de ver constantemente nas vitrines das livrarias, especialmente em 2018.

E também porque ele se popularizou muito com um vídeo da Jout Jout lendo o livro. Esse vídeo já tem mais de 7 milhões de visualizações e também é de 2018.


No livro, um círculo incompleto está à procura da parte que lhe falta. Ao longo de toda a história ele procura alguém para se encaixar e, quando encontra, percebe que não era exatamente o que esperava.


Por que? Porque ele percebe que o ser completado por outro faz com que ele não seja mais só ele mesmo.

Que quando se está com o outro, é preciso abrir mão de muita coisa.


Que a vida muda.



Cinco anos depois de ter escrito A Parte que Falta, Shel Silverstein lança seu último livro infantil traduzido para o português, que é a continuação da história.


Em A Parte que Falta Encontra o Grande O (The Missing Piece Meets the Big O), a Parte que Falta fica à procura de alguém para se encaixar. Depois de encontrar muitas partes, ela conhece o Grande ”, que rolava sozinho por aí porque nenhuma parte lhe faltava.


O Grande O ensina e estimula a Parte que Falta a aprender a rolar sozinha por aí. Ela passa, então por um lento processo de “levantapuxatombalevantapuxatombalevantapuxatomba”, até que começa a rolar!


E sozinha e completa, ela rola ao lado do Grande O.



Para saber mais sobre Shel Silverstein:



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